Educação, capoeira e tradição oral

Entrevista realizada com Mestre Alcides de Lima Tsrewaptu , no primeiro semestre de 2020, como parte das atividades da disciplina História do Ensino da Arte no Brasil: trajetória política e conceitual e questões contemporâneas, ministrada pela professora Sumaya Mattar no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP, com a colaboração de Guilherme Nakashato (pesquisador do GMEPAE – Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa em Arte e Educação).

A disciplina trabalha com a Metodologia da História Oral como estratégia de criação de fontes primárias sobre ensino e aprendizagem da arte em uma perspectiva não hegemônica e antirracista, considerando, inclusive as demandas instauradas pela Lei 11.645/2008 ao ensino de arte. Os estudantes, organizados em grupos ou individualmente, realizam entrevistas com pessoas cujas experiências têm interesse em conhecer e, após as entrevistas, escrevem textos com foco no tema principal extraído do universo do entrevistado, ou com foco em sua história de vida.

Anna Beatriz Gomes Hudler, Fernanda Barbosa da Silva e Letícia Cescon da Rosa entrevistaram Mestre Alcides de Lima Tsrewaptu, nascido em 1948, mestre de capoeira e mestre griô, foi o idealizador, junto ao Mestre Dorival, do CEACA (Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira), um projeto pedagógico que visa desenvolver no indivíduo suas aptidões para as artes em geral e para outras áreas do conhecimento através da capoeira e dos saberes da cultura e tradição oral, das quais é representante e defensor. Diante de uma realidade em que a educação ainda se apresenta refém de um método de aprendizagem extremamente colonizado, formal e totalmente contrário às tradições e culturas africanas – que são a base cultural (ou as bases culturais?) de nosso país, Mestre Alcides evidencia a possibilidade de uma educação totalmente diferente, baseada na tradição oral, na corporeidade e nos saberes griô, ao mesmo tempo em que dialoga com a educação formal e seu espaço de ensino.