Pesquisa de doutorado em andamento.

Pesquisadora: Silvania Francisca de Jesus.

Orientação: Ricardo Alexino Ferreira.

Resumo:

Esta pesquisa tem por objetivo provocar atenção, no olhar e na escuta, para o recado que os
referenciais indígenas, presentes no modo de viver, no cuidado com os saberes ancestrais, na
reverência aos mais velhos, nos rituais do aprender, podem trazer para processos de
transformação da educação formal eurocentrada em busca de perspectivas decolonias. O
movimento aprendente da comunidade Mbya se constituiu na experiência do conviver, do
experimentar, do observar, do caminhar junto, do escutar, no ambiente de uma cosmo-
vivência com riqueza simbólica singular, onde se insere o canto. Assim caminhamos em
direção a uma sonoridade seminal indígena, com um olhar e escuta sensíveis às canções e seus
significados. Há múltiplas variações na utilização das canções no universo escolar, que ora
proporcionam a iniciação musical, muitas vezes se restringem à reprodução da indústria
cultural e da sociedade do espetáculo, e até trazem elementos importantes da cultura popular.
No entanto, os significados das vivências cantantes, nas comunidades Guarani Mbya, são de
ordem tão diversa que será preciso uma importante mutação em concepções e práticas
vigentes. A pesquisadora sensibilizada pela metodologia da Pedagogia Griô, da Educação
Biocêntrica e sua relação com os saberes dos mestres/as da tradição oral, com respeito e
cuidado, se desafia a trilhar esse percurso intercultural. Assim afiguram-se as pessoas mais
importantes deste estudo na escuta dos mais velhos, das mais velhas, das mães, das
educadoras e educadores guarani e não podemos deixar de nos atentar às crianças e aos
adolescentes. Os questionamentos a seguir conduzem ao problema desta pesquisa: Como se
dá o processo educativo na cultura do povo guarani Mbya? Quais são os sujeitos que
assumem, dentro aldeia, a responsabilidade pela partilha de saberes com a nova geração? Há
uma pedagogia Guarani? Como é criada no dia-a-dia a dimensão poética, sempre permeada de
cantigas e histórias, construindo corpo e relações na grande comunidade de vida humana e
cósmica? Qual o influxo do canto no sentir-pensar conectado com a vida, os rios, as matas, as
pedras, o ar, os animais, os familiares e os diferentes? Para atingir os objetivos estarei atenta
aos referenciais das metodologias de pesquisa de história oral, com diálogo e escuta,
realizando entrevistas semiestruturadas na dinâmica das relações com os sujeitos deste
universo aprendente cantante. Estes procedimentos metodológicos de contornos qualitativos,
ocorrerão por meio de observação e de rodas de conversa com os/as indígenas na aldeia ou
fora dela, construindo o enredo deste caminho na coleta de dados, seguindo um roteiro prévio
feito pela pesquisadora. Além da escuta da comunidade Guarani Mbya, muitas recentes
pesquisas de caráter antropológico e etnográfico, irão compor o corpus das reflexões e
análises que serão elaboradas. Entre os autores que embasam esta pesquisa, estão Catherine
Wash e outros que trazem a problemática da decolonialidade. Pelos caminhos da Educação,
Experiência, Poética, Interculturalidade, Eco-Pedagogia, me encontrarei com Paulo Freire,
Reinaldo Matias Fleury, Rolando Toro, León Cadogan, Bartolomeu Meliá, Kaká Werá, Ailton
Krenak, Timóteo Popygua, Iberê Mbya e outras/os pesquisadoras/es que dialogam na tessitura
entre o Canto, as Culturas e a Pedagogia Crítico-Libertadora.