Outras memórias, outras histórias: contra colonialidade e o saber como construção coletiva e emancipatória na educação antirracista das artes

Clarissa Lopes Suzuki, 2022 – Doutorado em Teoria, Ensino e Aprendizagem de Arte, Universidade de São Paulo

Resumo fornecido pela autora:

Esta é uma tese que assume o enfrentamento da colonialidade na educação das artes por meio da construção coletiva e ancestral, do cruzamento de vozes, das confluências entre pessoas, das formulações interseccionais de conhecimento provenientes da experiência vivida e das epistemologias afro-brasileiras e indígenas, ou seja, de distintas formas de ser e estar no mundo. Estruturada pelas sabedorias formuladas por projetos que compreendem a educação como ferramenta emancipatória, segundo as concepções de bell hooks e Paulo Freire, além das pesquisas das pensadoras latino-americanas Silvia Cusicanqui e Catherine Walsh, que problematizam a colonialidade e reconhecem a educação como campo fértil para enfrentá-la, esta tese partiu do pressuposto de que os estudos e as ações que combatem a colonialidade possibilitam outras compreensões e insurgências das histórias e das memórias excluídas pelo projeto civilizatório moderno/colonial que se construiu pelo apagamento daqueles que, racializados, não se enquadram no padrão de existência do colonizador. O conceito de contra colonialidade é inspirado nos movimentos de luta pela terra, em especial pela formulação política do mestre quilombola Nêgo Bispo. Todos os saberes tecidos na tese são fruto da colaboração generosa de doze educadoras/es, artistas, militantes, ativistas, pesquisadoras/es comprometidas/os com outras vidas, com o enfrentamento à colonialidade e a todas as consequências dela provenientes, e, principalmente, com a mudança social. Os diálogos se deram por entrevistas a distância e as formas de tratamento do que foi recolhido seguiram alguns procedimentos metodológicos utilizados pelas pesquisas de História Oral. A alteridade, a afetividade e a escuta sensível foram princípios essenciais no levantamento e registro das colaborações. A pesquisa se propõe a uma contribuição social no campo das artes e da educação, por meio das confluências possíveis e em curso, com aquelas/es que são historicamente subalternizadas/os pela ideologia dominante, que invisibiliza o que não é espelho da existência branco-ocidental, cristã, masculina, cisgênera e burguesa. Como resistência no contexto educacional, podemos citar a lei 11.645/08, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, uma política pública impulsionada pelos movimentos negros e indígenas, desde a década de 1970, e, contribuir com a sua implementação é, também, um dos propósitos da pesquisa. A valorização de saberes que vêm da experiência cotidiana, das vivências ancestrais, de corpos subalternizados pelo sistema colonial, patriarcal, capitalista e cristão, e em um movimento coletivo, mostrou-se transformador e contra/anti/de-colonial. Na contranarrativa da maioria das pesquisas acadêmicas, esta tese se soma a todas aquelas que subvertem as violências geradas nos espaços de-formativos, e assume a elaboração coletiva na construção do conhecimento por meio das narrativas e dos referentes teóricos produzidos no Sul global que, em sua maioria, é composto por trabalhadoras/es pensadoras/es feministas, anticapitalistas, antirracistas, latinas/os, indígenas, negras/os e periféricas/os.

SUZUKI, Clarissa Lopes. Outras memórias, outras histórias: contra colonialidade e o saber como construção coletiva e emancipatória na educação antirracista das artes. 2022. Tese (Doutorado em Teoria, Ensino e Aprendizagem de Arte) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022. Em virtude do tamanho do arquivo, PDF não disponível no portal GMEPAE. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-10012023-101813/