Beatrice Frudit, Caio Bonifácio, Janaina Otoch e Leandro Muniz, 2021 – USP, São Paulo/SP
São bem conhecidas as críticas que desde o final dos anos 1960 visaram a disciplina história da arte, e talvez a mais evidente dentre elas diga respeito às dificuldades epistemológicas de seu modelo universalista, impermeável à pressão das múltiplas vozes que se entrecruzam na trama da história dos povos e de suas culturas, em permanente movimento. Esta parte da edição especial de Ars oferece um mapeamento bibliográfico organizado em seções temáticas, e busca reconhecer a multiplicidade de novos temas e interesses que há mais de meio século vêm franqueando a jurisdição da antiga disciplina e disponibilizando novas abordagens da arte. Não se trata de uma bibliografia convencional; em vez disso, propomos uma constelação razoavelmente heterogênea de obras, algumas imediatamente reconhecíveis como títulos de referência no estudo da disciplina, outras, provindas de diversos campos disciplinares, mantendo uma relação crítica estimulante, mas nem sempre explícita, com a história da arte. A diversidade de campos sugere a complexidade de caminhos que, especialmente a partir da década de 1960, se ofereceu à reflexão sobre as premissas e os métodos que firmaram o modelo tradicional da história da arte. Sinaliza, igualmente, a percepção crescente de que a disciplina parecia incapaz de alcançar a profusão de atores e objetos que passavam a reclamar o campo da arte, e que solicitava um processo de renovação radical. Optamos por agrupar os títulos em seções temáticas (divididas, por sua vez, em subseções), de acordo com afinidades conceituais, embora esta disposição seja apenas uma dentre diversas possibilidades de organização do material. Como decorrência dessa escolha, parte dos títulos pode pertencer simultaneamente a mais de uma seção, embora tenhamos optado por não repetir tais títulos nos lugares adicionais em que se mostrassem pertinentes. São seis as seções que compõem esta parte do volume dedicada a uma espécie de bibliografia em construção: Contribuições para uma história da arte brasileira; Textos fundadores da disciplina; História da arte e crítica de arte; Crítica dos fundamentos da disciplina; Questões raciais na história da arte; Perspectivas Feministas e de gênero na história da arte. Reconhecemos que essas divisões e a multiplicidade de questões em pauta nesta bibliografia explicitam a dificuldade de sistematização que se apresenta a quem quer que se aventure à tarefa da revisão da disciplina hoje. Trata-se, dessa maneira, de um trabalho em andamento, que convida ao engajamento crítico de muitos. Serão inevitáveis as lacunas e as omissões que só se advertem a posteriori. Ainda assim, um trabalho exaustivo foi realizado, visando oferecer um conjunto de textos que discutem questões relevantes para a disciplina, a qual há muitas décadas vem se lançando à revisão de suas premissas, sem que se pretenda, com isso, delimitar o manancial de temas e assuntos de interesse de uma renovada história da arte. Sublinhamos, finalmente, que este mapeamento bibliográfico não pretendeu indicar títulos em história da arte, mas, diferentemente, interrogá-la em seus pressupostos, visando, eventualmente, sondar o aparecimento de novas formas de reflexão e escrita sobre arte, ganhando impulso a contrapelo do tradicional modelo disciplinar. Isto é, a iniciativa não se volta ao exame do legado da disciplina na arte brasileira ou no cenário internacional da arte. Mormente no Brasil, cabe reconhecer, de todo modo, que dos anos 1990 para cá avançaram e enriqueceram significativamente os estudos acadêmicos em história da arte, em especial da arte brasileira. Sabe-se que há hoje no país nichos universitários de excelência dedicados ao estudo da arte e da arquitetura do período colonial, à vida artística e cultural na capital do Império, à notável contribuição dos africanos e seus descendentes para a vitalidade da cultura urbana carioca do século XIX, ao papel de artistas como Angelo Agostini e outros tantos anônimos que atuaram como ilustradores na imprensa oitocentista, registrando a vida cultural no Império e na República Velha; assinalem-se também as pesquisas inovadoras no campo da história da arte esmiuçando o processo de constituição dos acervos dos museus nacionais, iluminando a atuação de artistas mulheres do século XIX para cá, como também estudos sobre experimentos em fotografia em diversos foto clubes regionais pelo país, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
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